sexta-feira, 15 de abril de 2011

A esquerda da esquerda em Cuba



Governo cubano

O que um país de regime socialista oferece para a população local? Saúde, segurança, educação. Essa resposta vem na ponta da língua mesmo de quem pouco conhece sobre o regime cubano. Cuba tem um dos menores indices de mortalidade infantil da América Latina e a educação também é prioridade para o governo. Mas os cuidados com educação e saúde vem acompanhados de um rigor violento que controla e por vezes cega a população.

 
                            Família cubana na Plaza de La Revolución

Me hospedei ilegalmente na casa de uma família cubana no bairro de Vedado, em Havana. Ilegal porque a casa em que fiquei não é registrada pelo governo para receber turistas. Conheci a família ao acaso, enquanto procurava um hostel indicado por uma amiga Pollyanna Bastos. Eles me hospedaram, com eles pude conhecer o cotidiano local e descobrir uma Havana com um olhar não turístico.  Conviver alguns dias com a família foi mais de 50% do descobrimento que vivi em terras socialistas.

Um universo politico e social bem diferente do nosso. Na TV existem somente 5 canais e todos exibem programações a la “porque o socialismo é bom para o mundo”. Alguns cubanos roubam o sinal de TVs a cabo e assistem filmes norte americanos e novelas brasileiras. Alias, essas são um sucesso por lá e aparecem sempre acompanhadas de elogios ao futebol e às praias. Quanto ao sinal de TV roubado, se descoberto, leva a família inteira presa. O curioso é que quando se faz algo ilegal, os cubanos usam a expressão “fazer pela esquerda”. Como: “gosto muito de ver novela, mas o governo não deixa. Então roubo sinal de uma outra casa. A gente tenta agir bem, mas se não dar a gente faz pela esquerda mesmo”. A esquerda como sinônimo de errado, illegal, é uma ironia intrigante. Se o governo se considera de esquerda, para os cubanos, quando não tem liberdade de escolha – ainda que de eleger um canal de TV – agem pelo lado B, pela esquerda da esquerda do regime de governo.


               Pobreza: irmãs dividem o patins para brincar.

A economia de Cuba também é bem particular. E controlada. Existem duas moedas: os C.U.C s (moeda dos estrangeiros e com o valor quase equivalente ao do Euro) e os pesos cubanos (valem exatamente 25 vezes menos que o C.U.C.). Sendo uma moeda para turistas e outra para cubanos, existe uma desvantagem para os nativos. E eles não entendem o porque das duas moedas e mesmo sendo uma moeda cara, a moeda de turistas não beneficia a população cubana. Restaurantes, bares e vendas do centro da cidade (Havana Vieja) cobram o pagamento em C.U.C.. Como a população local não tem essa moeda, acabam por ficar privados do lazer, de compras, de liberdade.  Conheci um cubano de 20 anos que já foi professor de história. Ganhava 200 pesos para dar aulas. O equivalente a 8 C.U.C., o que um turista gasta facilmente em um almoço.

                            Capitólio atrai turistas para Habana Vieja

A crítica aberta que se pode fazer quanto ao controle do regime socialista é o de não beneficiar a população como um todo. Se existem funcionários do governo e famílias com carros modernos, não poderia haver pessoas trabalhando por um mês para ganhar o que um turista gasta em uma refeição. Se o socialismo puro e simples prega uma divisão igualitária de bens e menor concentração de renda, o regime que impera no governo cubano não é socilista. 



Texto: Marcos Corrêa


Um comentário:

  1. Assino embaixo! E aos que ainda tem uma visão romântica da coisa digo: vá viver em Cuba, mas não como um estrangeiro empolgado, tente viver a vida de um cubano de verdade e me diga se a falta de liberdade compensa o "amor a causa"!

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